terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Solos - Adubação

Finalmente chegamos ao último post da complicada série de medidas químicas para preparo de solo, e o mais fácil deles, para alegria de vocês, a Adubação. Primeiro vamos recordar o que já possuímos no nosso solo: Uma grande quantidade de potássio vindo das cinzas, juntamente com fosforo e outros micronutrientes, e uma boa dose de fosforo e calcio vindo da farinha de ossos, e, claro, outros micronutrientes, além das reservas naturais do solo. O que falta, primordialmente? O nitrogênio. Sim, crianças, o nitrogênio, o macronutriente mais importante de todos, mas isso não significa que seja complicado obtê-lo.

Adubação Verde


A melhor forma de manter o solo com nitrogênio disponível segundo a necessidade das plantas é a ADUBAÇÃO VERDE, já comentada e explicada no post "Culturas". Além disso, vale colocar esse áudio da Emater-MG, pela ótima iniciativa e de fácil entendimento. Segue o link do áudio, vale a pena conferir. O nitrogênio é um elemento crítico já que pode ser perdido para a atmosfera através da atividade de microrganismos, ou lixiviado em profundidade (levado pela água), além da retirada dele através do cultivo, o que faz com que essas reservas vão diminuindo mais rapidamente do que vão sendo repostas, assim a adubação verde é utilizada para diminuir essa diferença e/ou manter os níveis de N no solo.


Matéria Orgânica



Agora, vamos além do nitrogênio, e explorar a substância mais estranha e poderosa da natureza, que fica no intermédio entre o inorgânico e a vida, a matéria orgânica. Bom, primeiro vamos definir o que é matéria orgânica: Tudo aquilo, transformado ou não, em decomposição ou totalmente decomposto, que foi originado dos processos metabólicos que ocorreram em seres vivos. A matéria orgânica mais importante pra agricultura é chamada de húmus: moléculas compostas, principalmente, de carbono, hidrogênio e oxigênio, associadas, muitas vezes, a outros átomos, como enxofre e nitrogênio, estáveis e pequenas o suficiente para terem cargas. Sua função é melhorar a qualidade dos solos e sua fertilidade, por ter as capacidades de aumentar a CTC do solo, melhorar suas características físicas como retenção de água e drenagem, e aumentar a dinâmica de sua microbiota e outros irgânismos, que favorecem os ciclos de matéria.

Tudo muito legal, dá até vontade de sair por aí cagando nos canteiros, mas a matéria orgânica exige alguns cuidados, como tudo na vida. Primeiramente, seu excesso pode causar superpopulação de organismos decompositores, que, por sua vez, pode causar superpopulação de outros organismos, e assim pode atrair doenças de plantas e pragas de raízes, por exemplo. Além disso, matéria orgânica mal-decomposta pode trazer doenças mais graves, principalmente para os seres humanos, por atrair decompositores mais diversos, por isso é importante que a matéria orgânica aplicada no solo seja estável, em outras palavras, já tenha sido bem decomposta, então não adianta ir enterrando zumbis decapitados nas entrelinhas. E, finalmente, ela pouco decomposta tende a diminuir o pH, por isso deve ser adicionada segundo a necessidade e em nível avançado de decomposição

Agora, como produzir essa matéria orgânica decomposta? Através de minhocas detritívoras e outros organismos decompositores, como piolhos-de-cobra, sem esquecer os microrganismos, num processo chamado VERMICOMPOSTAGEM, que consiste em colocar restos alimentícios, estrume, palhas, restos de plantas saudáveis, e etc, em tambores/recipientes contendo minhocas introduzidas (outros organismos chegam sozinhos) que se alimentam dessas substâncias, até que eles transformem completamente essa mistura em húmus.

A quantidade a ser aplicada no solo, de matéria orgânica, vai depender muito de como seu solo consegue incorporar essa matéria orgânica, e de quanta ele já possui, por isso, mais uma vez, um experimento maneiro pode ajudar a solucionar esse pequeno impasse. Mas, para ajudar, essa quantidade varia 0,5 a 1 kg de húmus de minhoca para 1 m² cultivado.

Vermicompostagem


Como sempre, fui atrás de informações completas a respeito do tema, e encontrei esse manual de vermicompostagem bem completo e relativamente atual, de onde tirei as informações sobre os cuidados com os vermidigestores (tambores), inclusive existem alguns prontos no mercado, que se encaixam um sobre o outro, mas não acho necessário. As duas espécies de minhocas mais utilizadas são Eisenia foetida e Eisenia andrei, as duas chamadas de "Vermelha da Califórnia", sendo que a primeira possui comportamento mais lento, menos voraz, e cores menos intensas e pouco uniformes.





Alguns cuidados



- O local de instalação deve ser fresco, coberto, longe de incidência direta de sol, para garantir a manutenção da umidade e diminuir necessidade de regas. Regas regulares são importantes para manter a umidade, mas tente evitar o acumulo de água no fundo dos tambores, e para isso pequenos furos serão bem-vindos. O teste da umidade é uma boa forma de controlar as necessidades de rega: com a mão protegida com luvas, pegue um pouco de substrato da camada abaixo de 20 cm e aperte, se escorrer bastante água a umidade é excessiva, e se não escorrer, a umidade é baixa. O ideal é escorrer algumas gotas, apenas.

- Sempre adicionar, para um determinado volume de matéria orgânica a ser decomposta, um pouco de palha, para garantir mobilidade e aeração, bons para o desenvolvimento da população de minhocas. Para melhorar a areação, revirar e descompactar o substrato periodicamente dá bons resultados.

- Mantenha os tambores em contato com a terra, para que organismos decompositores presentes na natureza tenham acesso ao substrato

- Palhas na superfície do tambor ajudam a abafar possíveis barulhos que assustem as minhocas, ou diminuir impacto das gotas de chuva, e ainda escondem as minhocas de possíveis predadores, como pássaros. Além disso, a cama, uma camada de palha no fundo do tambor, deve ser adicionada para servir de ponto de partida para a ação das minhocas.

- Não adicionar alimentos com muito sal, já que o sódio é um micronutriente muito perigoso, em excesso, e nem carnes ou derivados de leite nos tambores, pelo mau-cheiro insuportável, que acaba atraindo moscas e outros invertebrados indesejados, mas se a composteira for grande, esses restos alimentares podem ser adicionados sem problemas. O esterco pode causar um pouco de mau-cheiro, mas ele é rapidamente decomposto, diferente da carne ou do leite, e pode ser decomposto em um tambor separado. As principais fontes de matéria orgânica devem ser palha, cascas de ovos, esterco, e cascas e restos vegetais, mas evite plantas doentes, já que isso pode comprometer seu solo com essas possíveis doenças.



- O mau-cheiro muito acentuado pode indicar excesso de alimento para as minhocas, ou seja, mais do que elas podem consumir, assim é necessário  diminuir a adição dos itens citados acima, ou você pode tirar um pouco e colocar em outro tambor, e aumentar a sua produção de húmus.

- Se as minhocas estiverem tentando "fugir" isso pode indicar duas situações: falta de alimento, o que pode ser falta de alimento mesmo (adicione mais), ou superpopulação de minhocas (comece outro tambor ou faça farinha de minhoca); ou excesso de umidade (regue menos;revire o monte; adicione palha).

- Se os alimentos dados forem muito energéticos e pouco proteicos, às vezes pode ocorrer demora na decomposição, devido a indisponibilidade de nitrogênio para o crescimento celular dos organismos, e aí a solução pode ser adicionar adubo verde no composto, fazer o xixizinho diário lá, bem como coletar a urina de animais e adicionar, e ainda adicionar carne, mesmo com o cheiro ruim.

- O excesso de minhocas pode ser combatido produzindo o que chamamos de farinha de minhoca, suplemento na alimentação, principalmente, de aves e peixes, coincidentemente as fontes de alimentos proteicos mais acessíveis, pela fácil crianção. Mas como produzir vinagre e álcool, para tanto? Bom, isso é assunto para outras discussões.

- Quando eu digo tambor, não quero dizer recipiente grande de plástico ou algo do tipo, mas apenas um recipiente grande, bem grande, que possa atender a esses requisitos citados. Às vezes uma tela de metal protegida da umidade por uma lona de plástico grande, moldadas em forma de bacia, pode garantir o serviço, e é até melhor, porque o volume de vermicomposto a ser produzido seria determinado apenas por você, e a mudança da vermicomposteira seria facilitada.


Coleta e Armazenamento


Segundo o manual da Embrapa, após o enchimento do tambor, as minhocas levam cerca de 50 a 60 dias para digerir 80% do substrato, e assim nos presentear com o vermicomposto, contudo esse tempo é muito relativo, e por isso você deve usar um pouco da sua natureza sensitiva para saber quando está pronto. Eu imagino que uma minhoca iria querer fugir caso não tivesse mais alimento, ao invés de comer suas próprias fezes, por isso um sinal pode ser esse. Além disso, você pode pegar um pouco do material marrom-escuro e esfregar nas mãos, com água, e se ele aderir como uma tinta, ou terra molhada, estará pronto para ser coletado.

O armazenamento deve ocorrer segundo as recomendações desse manual feito pela Embrapa.

Um outro tambor deve ser preparado antes da coleta, para que as minhocas selecionadas do antigo tambor possam ser rapidamente colocadas nele, e não sofrerão muito com a intervenção. Para que as minhocas sejam retiradas desse substrato velho, agora pronto, você deve colocar um saco cheio de matéria orgânica nova, verde, dentro do tambor antigo, e esse saco deve contem poros de tamanho suficiente para as minhocas entrarem nele. Assim, depois de algumas horas, você pode retirar esse saco de lá, e as minhocas estarão dentro dele, como se fossem "pescadas" (irônico, não?).


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