Bom, primeiramente precisamos definir o que é solo e obtermos algumas informações geológicas: Solo é o resultado de uma série de processos físicos, como ventos, dilatações e contrações pelas altas temperaturas, fissuras causadas pelo gelo, dentre outros, e efeitos químicos, causado, principalmente, pela água, tudo isso ao longo de muitos anos, sobre uma pobre rocha indefesa exposta a todos esses eventos, chamados intemperes. A essa altura entendemos que a fertilidade, a textura (argilosa, arenosa, siltosa, argilosa-arenosa), e a porosidade do solo dependem, em grande parte, da rocha da qual ele se originou, e dos minerais que estavam nessa rocha, que darão origem aos minerais do solo. Quase sempre eles não são os mesmos minerais da rocha, já que transformações químicas e quebras constantes os tornam infinitas vezes menores e de composições químicas diferentes. O único mineral realmente importante que não se transforma quimicamente durante os processos de formação do solo, mas apenas diminui de tamanho, é o Quartzo, mais conhecido como "grão de areia", que está presente em rochas como os Granitos.
Tabela de classificação dos minerais do solo segundo o tamanho das partículas. Quanto mais intemperizado, mais desenvolvido o solo é, e menores são suas partículas.
Agora, vamos ao que interessa. É importante dizer que seus métodos práticos serão abordados no post final dessa série, e esse post tem a finalidade apenas explicativa, e como as medidas químicas geralmente são as mais difíceis, deixarei para explicar as medidas físicas juntamente com os aspectos práticos dessas. Aqui vai a definição dos métodos químicos:
Adubação: Como podemos entender a partir do esquema de tamanhos de partículas, os solos argilosos são os que sofreram mais intemperismo durante o tempo, o que significa que esses solos estão em locais onde os intemperismos são intensos, como chuvas muito volumosas, e o problema disso é a Lixiviação: A chuva é suficiente para saturar o solo, ou seja, todos os poros são preenchidos por água, e, além disso, as moléculas que são solúveis em água são levadas até os lençóis freáticos pelo fluxo de água.
Tá, mas e dai? Essas partículas são, em maioria, íons importantes para as plantas, como Na+, K+, Mg²+, Zn²+, Cu²+, e outros, chamados de macro e micronutrientes. Por isso, um dos principais processos de manejo dos solos tropicais é a ADUBAÇÃO. Além disso, a adubação também é importante para repor os nutrientes perdidos com as colheitas, e consequente retirada permanente deles do solo.
Calagem: Além da adubação, a regulação do pH do solo é muito importante, uma vez que ele interfere na troca de íons entre a planta e a solução nutritiva de água presente no solo. O pH também interfere em como os nutrientes são transferidos da parte sólida do solo para a solução nutritiva, importante para que as reservas de nutriente na solução nutritiva não se esgotem com a retirada constante desses, exercida pela planta. Para quem quiser saber mais sobre o equilíbrio químico entre a água adsorvida nas partículas e essas partículas sólidas, pode começar pesquisando sobre CTC.
O pH é uma forma de expressão da concentração de íons H+ usada para facilitar a visualização e entendimento dele, por exemplo: Uma solução com pH = 6,5 possui a concentração de 10^(-6,5) de íons H+, e isso equivale a mais ou menos 0,00000031623 mol de íons H+ (Difícil, não?). Via de regra, o pH do solo deve estar na faixa de 4,5 a 5,5, ou seja, mais próximo de um pH neutro (7), um pouco ácido.
O pH de solos tropicais costuma ser muito mais ácido graças a uma série de fatores chatos tipo lixiviação de bases, fermentação microbiana, etc. Ou seja, os solos tropicais costumam ter uma concentração maior de íons H+ do que em pH 4,5 a 5,5, por isso é necessário o aumento do pH desses solos, e para isso usamos substâncias formadas a partir de bases fortes, e sais como: CaCO3 (carbonato de cálcio), Ca3(PO4)2 (fosfato de cálcio), e alguns sais de potássio (K), através do processo de CALAGEM. No caso de se usar um sal vindo de uma base muito forte e um ácido muito fraco, como o carbonato de cálcio (CaOH + H2CO3), a calagem passa a ser mais efetiva por ter efeito tamponizante: Consegue suportar pequenas variações no pH, mantendo o pH atual, assim o tempo até a necessidade de uma nova calagem se estende, diminuindo o trabalho do agricultor.
Gessagem: Processo de adição de Gesso Agrícola (CaSO4) diretamente no solo ou na mistura usada para a calagem, com a finalidade principal de lixiviar íons não desejados como o Alumínio (Al³+) e o Sódio (Na+), em maiores profundidades, quando um ou ambos estão em excesso, evitando contaminação por alumínio e sódio, e enfermidades para as plantas. A verdade é que é usado principalmente para lixiviar alumínio, uma vez que o sódio dificilmente está em excesso em solos tropicais, já o alumínio é um dos compostos mais comuns desses solos. Em solos muito mais desenvolvidos, o alumínio forma os óxidos de alumínio que, juntamente com os óxidos de ferro, são extremamente abundantes e estáveis, o que faz com que a presença de íons Al³+ seja intensa em solos desenvolvidos, como os tropicais.
Além da função de lixiviar Al3+, como é composto de cálcio, a GESSAGEM também contribui para o aumento do pH, como consequência, e também é importante para o desenvolvimento mais intenso das raízes enquanto a planta ainda se instala no solo, ou seja, nos primeiros dias de vida, já que possúi nutrientes como S e Ca.
P2O5 + 3H2O ---> H3PO4 + H3PO4
H3PO4 + H3PO4 ---> 2 HPO4²- + 2 H+
Ou seja, como ocorre liberação de H+, a fosfatagem diminui o pH, por isso ela deve ser feita antes da Calagem e da Gessagem. Esse efeito de diminuição de pH não é observado quando o fosfato é adicionado ao solo na forma de um sal a partir de base de força igual, ou maior, a força do ácido fosfórico (H3PO4), como no caso do Fosfato de Cálcio (Ca3PO4), que vêm a partir do ácido fosfórico e do hidróxido de cálcio (CaOH).
Bom, tudo é muito lindo e bonito, na teoria, mas existe um grande porém, meus caros. A medida da necessidade de calagem vai depender de quanto o pH precisa aumentar, e de como o solo consegue incorporar os compostos da mistura para calagem, por isso é baseada em uma análise química do solo. A medida de quanto gesso deve ser incorporado na mistura de calagem, ou aplicado diretamente, vai depender do teor de alumínio (Al³+) no solo, e de como o solo consegue incorporar o gesso agrícola, e essa medida também é obtida través de análise química do solo. A medida de quanto fósforo deve ser adicionado ao solo vai depender da deficiência dele no solo, e, adivinhem? Isso também é determinado através de uma análise de solo complicada, laboratorial, e técnica. Por tanto, crianças, vamos começar a pensar em alternativas para solucionar esse impasse técnico-científico: COMO FAZER TUDO ISSO SEM UMA ANÁLISE QUÍMICA DO SOLO?
Para a felicidade geral, os agricultores orgânicos e os antigos agricultores já fizeram esse exercício, e conseguiram alternativas talvez não melhores, nem iguais, mas que permitiram a sobrevivência da humanidade até aqui e uma boa produção, em quantidade e em qualidade. Quer alguma coisa melhor que isso?
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